Minha resenha de Tempos Difícies do Charles Dickens

Tempos Difíceis é um livro satírico sobre a Inglaterra da primeira revolução industrial onde Charles Dickens mostra sob o posto de vista de duas grandes forças, as Mãos e seus Mestres. Entenda como essa obra continua sendo impactante nos tempos atuais.

Introdução

Esta é minha primeira resenha "elaborada" da vida. Não sei realmente o que falar sobre um livro mas quando o comprei sabia que seria uma crítica sobre o capitalismo e me interessei de antemão. Charles Dickens também é um autor que sempre quis ler pois sempre me recomendavam e decidi dar um fim a essa curiosidade e comprei uma edição linda do livro.



Sumário

Foto de Charles Dickens.

Charles Dickens

Nascimento: 7 de fevereiro de 1812
Cidade Natal: Portsmouth, Inglaterra
Falecimento: 9 de junho de 1870
Primeira publicação: As aventuras do sr. Pickwick, 1836

Charles Dickens foi um escritor inglês da era vitoriana. Ele era autodidata e assim aprendeu taquigrafia e ainda jovem conseguiu emprego no tribunal. Depois se tornou jornalista e com vinte e poucos anos publicou seu primeiro livro. Em 1838 publica seu segundo livro, dois anos depois da publicação do primeiro, Oliver Twist, onde começou suas críticas a sociedade vitoriana. Logo depois ele começou uma série de livros de Natal de 1843 a 1848. E em 1849 publicou David Copperfield um dos livros de maior sucesso do autor. O livro Tempos Difíceis foi publicado em 1854. Outro clássico é Grandes Esperanças, lançado em 1860.



Foto do livro de Tempos Difíceis. Capa Dura de cor roxa.

Tempos Difíceis

Tempos Difíceis é o décimo romance de Charles Dickens e a estória se passa na cidade fictícia Coketown, uma cidade típica e com todos as características de uma cidade vitoriana na era da revolução industrial. Com grandes fábricas e grandes torres de fumaça. Uma cidade onde não tinha dia, pois ele era coberto com fumaça a todo momento. Não vou colocar o enredo dele aqui. Vou falar dentro da minha perspectiva.

Esse é meu primeiro livro de Charles Dickens e estou ansiosa para começar outro clássico seu. Eu gostei bastante do desenvolvimento de Tempos Difíceis. Senti uma certa dificuldade no início da leitura, pode ter sido causado pelo meu tempo de inatividade no mundo literário também. Mas o começo do livro começa um pouco confuso porém a escrita do Charles não peca. É um estilo que gostei bastante e por ser uma livro onde Charles Dickens tem uma escrita mais amadurecida, também contribui para uma fluida leitura.

Começo do livro

O livro começa numa sala de aula, onde é apresentado dois personagens. Thomas Gradgrind e Josiah Bounderby. Dois amigos com personalidades bem semelhantes. A escola servia como um lugar de ensino de Fatos. Apenas Fatos e Cálculos era considerado importante para que a futura geração torne-se bem sucedidos e competentes. Imaginação era considerado um exercício constantemente inoportuno. Não só a imaginação mas até a ponderação demorada não era aceitável. E era assim que funcionava as escolas de Coketown.

Personagens

Como dito antes o começo do livro já nos apresenta dois personagens e eles são um dos protagonistas desse romance que por sinal é o romance mais curto do Charles. Thomas Gradgrind possui dois filhos, Louisa e Tom onde faz questão de proporcioná-los a educação dentro dos princípios já citados. Ele era um dos palarmentares do tribunal inglês e assim tinha uma riqueza satisfatória.

Josiah Bounderby é um personagem bem interessante de se imaginar e ler a respeito, uma personalidade bem intrigante. Ele é um banqueiro, dono de umas das fábricas da cidade, e uma pessoa que se orgulha bastante de suas posses e seu caminho para ter conseguido seu alto status. Não quero dar muitos spoilers mas é bem legal o jeito que Charles Dickens descreve e alimenta esse personagem. Ele vivia junto a sua empregada Senhora Sparsit, mulher que intitula ser da alta sociedade mas que por infortúnios teve que se contentar em viver como empregada de Bounderby.

No decorrer do livro vão sendo introduzidos novos personagens e Charles faz questão de dedicar capítulos especiais para cada um deles. Confesso que na metade do livro já ficava um pouco impaciente pois Charles não parava de introduzir novos personagens e acabei até me perdendo em meio aos nomes. Vale ressaltar que os filhos do Sr. Gradgrind Louisa e Tom também são essenciais para o enredo.

Outros personagens que é importante citar são Sissy, Stephen Blackpool e Rachel. Sissy é uma personagem que é introduzida logo no começo e é filha de um palhaço circense e acaba sendo vista pelo Sr. Gradgrind que sente pena devido a circunstância que Sissy se encontra no livro. Stephen Blackpool é um dos milhares de trabalhadores que faz Coketown funcionar. Ele trabalha em umas das fábricas de Coketown e mora em um pequeno apartamento na cidade. Rachel é uma amiga de Stephen e que trabalha também na fábrica só que em outro setor. Ambos tem personalidades humildes e uma austeridade exemplar. Stephen tinha um amor grande por Rachel e sentia-se mal por não ser um homem a altura que Rachel merecia. Ela por outro lado amava o jeito de Stephen mesmo ele mesmo não gostando. E durante o final de expediente sempre tentavam encontrar-se e conversar durante a caminhada de volta para casa.

O desenvolvimento

Como não quero dar spoilers não vou contar sobre o que acontece no livro. Tem momentos que eu consigo elencar como clímax e eles são incríveis de serem lidos mas Charles também faz questão de soltar umas falas impressionantes durante momentos de calmaria. Todos os personagens citados são protagonistas de suas próprias aventuras dentro do livro. O autor faz questão de destacar cada um deles e suas próprias aflições. Conseguimos entrar na cabeça de cada um nas mãos de Charles.

Também conseguimos perceber em sua escrita as sátiras que Charles coloca sobre as ideias iluministas e liberais da época. Veja um dos trechos em que a pequena Sissy responde ao professor:

"Então o senhor M'Choakumchild disse que me faria outro teste; e falou, ‘Essa sala de aula é uma imensa cidade onde vive um milhão de habitantes; apenas 25 passam fome nas ruas, durante um período de um ano. O que você tem a dizer sobre essa proporção?’. O que eu respondi, porque não encontrei uma resposta melhor, foi que o sofrimento daqueles que passavam fome era o mesmo, quer houvesse um milhão, quer muitos milhões de habitantes. E essa resposta também estava errada"

Charles também faz questão de citar periodicamente as mudanças que as fumaças das fábricas de Coketown causam na cidade. Cita o ar constantemente poluído com cheiro de fumaça e o dia sempre nublado mas não por nuvens. E como essa atmosfera era considerada ideal para uma cidade próspera. O autor também cita pelas falas constantes de Bounderby e de Gradgrind que pessoas como Stephen sempre teriam o mesmo propósito de vida, no qual eles chamam de Mão de Coketown.

Outra parte importante do livro que merece ser destacada é quando o Stephen vá à casa do senhor Bounderby perguntar sobre algumas questões que ocorriam na fábrica dele. Assim ele suplica:

“Veja a consideração que você têm por nós, as coisas que escrevem e falam sobre nós, as comitivas que enviam até o secretário de estado para falar sobre nós. Veja como vocês estão sempre certos e nós sempre errados, desde que nascemos. Veja como isso tudo vem aumentando, sem parar, tornando-se cada vez mais intenso, mais penoso, ao longo de anos e anos, gerações e gerações. Quem poderia olhar para essas coisas, senhor, e dizer honestamente que isso não é uma perversidade?”

Uma das grandes críticas que Charles satiriza em seu livro é a meritocracia; utilizando o senhor Bounderby como instrumento. Ele amava se vangloriar de suas riquezas falando que antes de sua ascenção ele era um trabalhador, que corria atrás da fortuna e que conseguiu superar todas as adversidades. E assim Charles escreve:

"Essa era outra das ficções que se disseminavam em Coketown. Qualquer capitalista do local que tivesse conseguido transformar alguns centavos em diversos milhares sempre se mostrava surpreso e inconformado com o fato de milhares de Mãos não serem capazes do mesmo feito. O que eu fiz vocês, podem fazer. Porque então não o fazem?"

Curiosidades

É interessante também saber o contexto da publicação do livro. Charles trabalhava em seu próprio periódico chamado Household Words que estava com as vendas diminuindo e para alternar essa curva, Charles começa publicando Tempos Difíceis em formato serializado e foi dessa forma que os lucros dobraram. Mas certamente essa não foi a única motivação do autor para escrever esse romance. O período industrial que Charles vivenciava naquele momento foi crucial para que ele escrevesse sobre.

Ele inclusive, no mesmo ano de publicação de Tempos Difíceis, em 1854, escreveu artigos para o periódico sobre acidentes fatais em fábricas de tecelagens e sobre o trabalho infantil que acontecia. Charles como jornalista também era ativo no cenário socio-político e estava sempre fazendo coberturas de conflitos sociais na época. O principal motivo de Charles ter a ideia de escrever Tempos Difíceis foi quando ele cobriu um protesto em Preston, Lancashire em Janeiro, meses antes do primeiro capítulo do livro sair em seu periódico. Foi um grande protesto em busca de um aumento em seus salários que reuniu mais de 20 mil trabalhadores. Charles ressalta em seu periódico On Strike que era um protesto equivocado por parte da classe trabalhadora mas que, apesar de tudo, tinha certeza da dignidade e virtude dos protestantes.

Assim Charles ressalta que a pauta sobre o trabalho é muita mais complexa do que apenas protestar. Isso também fica claro em uma parte de seu livro com a introdução de um personagem chamado Slackbridge. Onde Charles teve a inspiração dele justamente no protesto de Preston. Aliás, o protesto de Preston foi um protesto altamente organizado em que uma parte dos trabalhadores protestavam contra certa fábrica e outra parte continuava a ativa em outra fábrica para que eles conseguissem sustentar seus companheiros. Sabendo disso, os donos de fábrica deram um jeito de prevenir esse companherismo.

É dessa forma que Charles consegue um grande sucesso em seu periódico. Ele escreveu Tempo Difíceis em um período com grandes conflitos laborais que aconteciam em toda a Inglaterra, trazendo a tona as dificuldades dos trabalhadores, suas péssimas condições de trabalho como também a terrível vida fora das fábricas.



Colagem de 3 ilustrações usada na primeira edição de Tempos Difíceis.

Finalização

Acho que consegui dar uma amostra dos pontos principais do livro. Ele não tem uma leitura difícil mesmo sendo um livro antigo. É fácil entender as entrelinhas e diálogos entre os personagens. Uma dica é começar o livro sabendo que nos primeiros capítulos vários personagens vão ser apresentados. Mas fiz isto nesta resenha então caso leia você não terá problemas no início da leitura!

O livro é um clássico que vale a pena ler, pois querendo ou não, ele ainda pode ser comparado com a atualidade. Por isso muitos falam que Tempos Difíceis é um livro atemporal em que Charles pensando na sociedade industrial conseguiu de certo modo prever sua continuidade até hoje.

Obrigada por ler e até a próxima.

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